O processo de criação pode ser a partir de qualquer coisa é comum que seja pelo texto, começamos pela leitura do texto, mas não me valho apenas dele, nem das improvisações, memória corporal, vivências pessoais, histórias que ouço por aí, eu preciso de música! Então eu convido os leitores do blog para entrarem neste universo sonoro.
Como assistente de direção a minha forma de entrar na atmosfera da peça foi a identificação com algumas músicas para serem trabalhadas nos ensaios.
Em P1 e P2 eu via duas pessoas brigando o tempo todo, mas abandonados a eles mesmos, rabugentos, engraçados, naquele momento eram amigos de infância!
Trabalhei a música Meu amigo Pedro de Raul Seixas com Fernando e Lucas para criação de vínculos entre P1 e P2, as diferenças, mas o companheirismo.
O começo da música sempre me lembra como uma caminhada de mãos dadas, olha que imaginação é algo muito pessoal, cada um cria suas imagens, mas vamos lá.
“Quando quer chorar vai ao banheiro” eu achei a cara de P2, durão. “Me queimo torto no inferno” P1, ah ele é artista! Risos
“Hoje eu te chamo de careta e você me chama vagabundo”, me parece P1 falando sobre P2, um careta e o outro é vagabundo, pois no texto P2 pergunta a P1 o que ele faz, ele diz nada e P2 diz que como P1 é artista ele deve propor, criar... Mas então estou com P1, é isso que é arte? Materializar coisas?
E P1 assim como na música meu amigo Pedro pede a P2 que não o critique, deixe ele ser como ele é.
Quando no refrão diz “Pedro onde você vai eu também vou, mas tudo acaba onde começou” eu ficava vendo os dois atores ali deitados e via os dois personagens brigando mas com carinho, mas aonde eles vão eu não posso dizer, se não estraga a brincadeira.
Para a Enfermeira 1 eu escolhi duas músicas, Dr. Pacheco de Raul Seixas e Histérica de Oswaldo Montenegro.
A imagem que crio de Dr. Pacheco é de um psiquiatra estilo cientista maluco de desenho animado e a enfermeira 1 seria a versão feminina daquela criaturinha louca, paranóica, olhos esbugalhados, andar estranho, uma mistura desequilibrada de energia e cansaço.
Quando nos versos da música se encontra
“Formado, reformado, engomado
Num sorriso fabricado
Pela escola da ilusão,
...
Perdido, dividido, dirigido,
Carcomido e iludido
...
Dr. Pacheco não vai voltar
Dr. Pacheco foi almoçar”
Lembro dela, pelas próprias falas dela, ela foi formada e dirigida para ser assim, dura, e que escola é essa onde se ensina ilusões e pensando na minha faculdade me pergunto qual escola não ensina ilusões?
A personagem é dividida entre as várias tarefas que tem de cumprir e ela de certa forma abandonará os pacientes, vamos dizer que ela não vai voltar porque foi almoçar. Mas é nessa hora que ela fala de suas “divisões” e bom, que mulher não é dividida entre profissão, marido, filhos e menstruação? Nessa hora ela é a histérica de Oswaldo Montenegro.
A música do Oswaldo começa com vidros sendo quebrados, tiros e um grito! Nossa!! Assim é a entrada da Enfermeira 1, uma histérica controlada, (controlada até quando?), afinal está num hospital, mas dá para ver na entrada da personagem pelos seus olhos arregalados, pelo andar apressado, ela vai explodir! Saiam de perto!
A Enfermeira 2 eu peguei bem do texto mesmo, bem diferente da riquíssima construção de Mabelle, imaginava uma pessoa que expõe produtos, no caso dela, expõe informações, não importando se serão interessantes, mas de um jeito encantador, sensual, alegre como se fosse a melhor coisa do mundo, algo meio garota do tempo, meio modelo, que não importa o conteúdo do que é dito, mas sim o jeito que é mostrado, me lembrei na hora da música Das Modell, tanto na versão tecno industrial da banda Kraftwerk quanto na versão rock industrial da banda alemã Rammstein.
Como nos dois casos a música está em alemão (há uma versão em inglês também) e mesmo sabendo a tradução me valho mais da imagem dos clips e do ritmo. No caso de Kraftwerk lembra mesmo um desfilar, meio robotizado, meio quebrado para as poses.
Das model – versão Kraftwerk
“Ela é tão bela, por sua beleza nós pagaremos
Ela posa para produtos de consumo de vez em quando
Para toda câmera ela dá o melhor de si”
Essa questão de dar o melhor de si, é o que a personagem faz, dá o melhor de si, sempre tenta ser agradável, sempre diz “espero ter contribuído para a melhora de vocês”, ela deseja ser simpática, solícita, ajudar, mas aí é que está ela realmente ajuda? E porque ela ajuda, para que “câmera”? É uma pose? Uma ironia?
Outra música que foi utilizada para a personagem enfermeira 2 foi Ai se eles me pegarem agora, música de Ópera do malandro de Chico Buarque, utilizada para a construção da sua forma de andar.
Agora ouço a música de abertura da peça, a primeira a ser escolhida e a que me comove a qual eu não citarei, somente assistindo ao espetáculo para entender porque ela foi escolhida, ou não entender mais ver como ela inicia, adentra quem a ouve na atmosfera de sentimentos do que será exposto.
Mas uma música que utilizamos pouquíssimo e a que mais gosto é L’amitié de Françoise Hardy, porque me lembra a questão de que a única coisa que resta a P1 e P2 é a amizade deles.
“Como não sabemos o que a vida nos dá,
Talvez eu não seja mais ninguém.
Se me resta um amigo que realmente me compreenda,
Me esquecerei das lágrimas e penas.”
Links para vídeos de algumas músicas:
L’amitie
http://www.youtube.com/watch?v=MXWfb1PpmbQ&feature=related
Das Modell
http://www.youtube.com/watch?v=wWc4a5B9AUI&feature=related
Meu amigo Pedro
http://www.youtube.com/watch?v=llcFzl3uauk
Dr. Pacheco
http://www.youtube.com/watch?v=WlM52IE_Jrk&feature=related
Diana Paiva
Assistente de Direção