quarta-feira, 29 de julho de 2009

Construindo, desconstruindo, reconstruindo... O processo.



No dia 28 de agosto de 2008, iniciam-se os trabalhos (ainda internos) do que mais tarde dariam nome a Companhia de Teatro Hedônicos. Das inquietações relacionadas ao fazer teatral, sobretudo com a vivência política da professora, atriz e amiga, Adriana Amorim, no curso de licenciatura em teatro pela Universidade Federal da Bahia, surgiu a NECESSIDADE de fazer algo. O impulso maior foi dado após a escrita de um texto chamado O Mesmo Espelho, onde tem-se 25 atores em cena (que não consegui reunir em um elenco). Daí surge à decisão de arregaçar as mangas e agir. Nessa atitude, a arte precisava ser colocada em questionamento, sobretudo o meu próprio conceito de arte, e busca do “eu-artista” (que até hoje não consegui decodificar por completo).

Reuni então alguns poemas, músicas como: A Fome e o Amor - Augusto dos Anjos, A Língua Lambe e Castidade que Abria as Coxas - Carlos Drummond de Andrade, Obssessor e Realizo - Tássio Ferreira, Pais e Filhos - Legião Urbana, A Carne - Seu Jorge/Marcelo Yuca/Ulisses Cappelletti, Tigresa – Caetano Veloso, O Velho – Chico Buarque, Esquecimento – Fagner e Brandão, Agonia – Composição Indisponível. E dessa diversidade poética de ambos os autores, iniciei a construção de uma oficina-laboratório, para ser experienciada com os atores. Nesse processo fui extremamente influenciado por alguns pensadores de teatro, e da linguagem cênica como um todo, como: Eugênio Barba com seus conceitos extra-cotidiano do corpo-mente, exaustão; além de Vsévolod Meyerhold com a biomecânica; Rudolf Laban com o sistema laban de estudo do movimento; Constantin Stanislávski que é o precursor das pesquisas de muitos outros encenadores; e por fim Jacyan Castilho, com a musicalidade do ator (Professora Doutora em Artes Cênicas pela escola de Teatro da UFBA). Apesar de técnicas e estudo às vezes extremamente díspares, eu não me aproprio de nenhum conceito ou técnica desses pensadores, apenas existe grande influência nessa pesquisa, que mais tarde dará vazão a uma metodologia específica, chamado por mim de Memória corporal. Um longo caminho de muitas incertezas que carregarei pelo resto de minha vida, nessa busca desenfreada pelos processos que acontecem no corpo dos atores.

Diante da elaboração dessa oficina-laboratório, começamos a praticar ainda sem textos e personagens. A idéia é partir do pressuposto que ninguém cria nada, as coisas surgem do nosso corpo, e chegam até a cena. Com isso, após 3 meses de muito suor, eis que surgi essa dramaturgia proposta pelos atores e acabada por mim.

Com o “drama estabelecido”, começam os ensaios, onde muitos atores não viveram todo o processo inicial. Alguns precisaram sair do elenco. Com isso esses laboratórios sempre eram retomados, com uma cara nova, para reavivar a chama das personagens.
Um espetáculo cheio de mistérios, incertezas, conflitos, retratando a pura essência humana, com uma visão e experiência de artistas. Numa tentativa de contemplar todas as classes artísticas (coisa impossível), é feito um recorte da vida de 11 artistas que foram colocados misteriosamente em neste local conflituoso, onde toda a trama se passa em trinta minutos. A própria situação de aprisionamento e morte inesperada leva a mente humana desses 10 homens e mulheres a expurgar suas dores, emoções, dissabores, amores, ódio, rancor, mágoa, alegria – sentimentos latentes no homem.

Um drama denso, visceral. Provocar a platéia, levar a uma reflexão de que arte é essa? Porque a arte é importante? São alguns dos propósitos desta Companhia. “Hedônicos” é fruto de um trabalho de base experimental, combinando profissionais com larga experiência no campo e jovens talentos, a fim de gerar um intercâmbio e renovação nos trabalhos artísticos.

Tássio Ferreira (Diretor da Companhia)