quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Reflexões sobre o evento "Diálogos sobre Dramaturgia Contemporânea"


Nos últimos dias 05, 06, 07 de outubro, aconteceram no Teatro Martim Gonçalves, os Diálogos sobre Dramaturgia Contemporânea, trazendo para Salvador três conceituados dramaturgos de nossa época: Newton Moreno (Brasil), Ramon Griffero (Chile) e Dario Facal (Espanha), promovido pelo grupo Teatro NU, através do Fundo de Cultura. Um espaço importante de discussão, conhecimento, resignificação de conceitos... Uma verdadeira troca latino-americana. Importe salientar a relevância destes encontros na cidade do Salvador, onde a dramaturgia ainda não encontra no cenário teatral o seu espaço reconhecido.


Nestes três dias, encontramos alunos da escola de teatro (em pouquíssimo número), dramaturgos da cidade, atores, diretores e pessoas afins ao tema. O evento contou com um número de pessoas que considero satisfatório para o juízo de valor que é dado à dramaturgia. Penso que tinham umas vinte e poucas pessoas, oscilando durante os três dias.


No primeiro dia, infelizmente não contamos com a presença do dramaturgo Newton Moreno, por motivo de saúde. Mas, o dramaturgo Cláudio Simões, “fez o seu dever de casa”, e, nos deu a oportunidade de discutir acerca da leitura dramática que foi feita anteriormente a discussão. No segundo dia, enfim, podemos começar o “bate-bola” com os criadores.

Uma tendência desse segundo dia era uma fuga às perguntas de alguns alunos da escola, quando referia à questão a ação dramática dentro do espetáculo DRAMÁTICO. O Dario Facal se contradizia o tempo inteiro. Em uma de suas falas ele nos diz que o texto é mesmo a última coisa a ser trabalhada e de pouca relevância dentro do universo espetacular. Corrigindo, em seguida, após as reações contundentes de alguns, que, na verdade, ele não quis dizer que esse texto não era importante, que ele é professor de Teatro na Universidade, e que o texto tem sim sua relevância. Realmente foi confuso seu discurso.


O que puder perceber é uma tendência à contemporaneidade a fuga do drama, do diálogo propriamente dito. É sabida a liberdade de criação de cada um, mas é complicado chamar de teatro um texto literário, de cunho extremamente épico, onde vez ou outra vemos traços estilísticos do drama. Estamos na era da imagem, da poluição visual, da confusão dos tempos, da efervescência das informações, e esse homem contemporâneo, já não consegue mais acompanhar um espetáculo de teatro, onde o drama é a base. Logo, as companhias contemporâneas têm pautado-se na idéia da construção imagética, substituindo a ação dramática pela exposição de belas imagens corporais, aliadas a uma sonoridade furtiva que completam a cena com um tom de iluminação concebido com seus efeitos tecnológicos. Apesar de ácida essa informação, é clara e recorrente nos espetáculos teatrais, sobretudo da cidade do Salvador – a qual sou residente e acompanho o movimento teatral.


Não quero com essas explanações dizer que as peças que utilizam esses mecanismos são piores ou melhores que as outras. Não! A questão aqui posta é o drama, ação dramática que nutri toda a trama. Existe uma ilusão de ação dramática colocada pelos solilóquios.


Durante as leituras muito bem representadas pelo corpo de atores da Companhia, percebi a “penetração”, o mergulho na caixa cênica do público quando começavam esses trechos que não podemos chamar de diálogo, porque se passam em um outro plano de ação, colocados por exemplo em “Morfologia da Solidão” de Dario Facal. Em uma construção do “diálogo” do homem com uma prostituta do telesexo. Nesse instante a energia do teatro é excitada, e posso dizer que não pelo tema sexual, que realmente mexe com o espectador, mas a idéia do diálogo, a dialética de fato acontecendo e trazendo o público, convidando essas pessoas a participarem do espetáculo. Já provado por Aristóteles em sua poética que de fato o que provoca a catarse nas pessoas é “essa história a ser contada”, não importando ela ser lida ou encenada.

Será que o teatro contemporâneo está fadado ao épico? Será que a linguagem cinematográfica de fato contaminará a linguagem cênica teatral?


Essa outra questão é interessante. No terceiro dia, assistimos à leitura do texto de Ramón Griffero, intitulado “Fragmentos da Solidão”. O próprio autor chileno nos diz a forte influência do cinema, que na verdade ele ingressara no teatro para aprender a dirigir os atores. Essa idéia de cinema é clara em seu espetáculo, que nos bombardeia de informações que do ponto de vista de representação cênica teatral, ela se torna impraticável no palco – visto com meus olhos. Realmente ao ouvir a leitura dramática, as imagens são criadas em minha cabeça, e, logo vemos a sua peça dentro das telonas de cinema.


São discussões que me inquietam bastante. Eu que inicio meus estudos acerca da dramaturgia, entro em conflito com as construções de peças que já fiz. Às vezes me sinto vazio, pois, penso que minhas peças não serão interessantes às pessoas, elas não estam à serviço desse homem contemporâneo, no sentido de não proporcionar essa linguagem cinematográfica, em um espetáculo de no máximo uma hora que esse espectador saia “satisfeito” (sendo esse termo um longo espaço para outra discussão). Não sei escrever assim. A ação dramática, com suas construções de personagens cartesianas ou não, e todas as micros curvas dramáticas construídas, que Martim Esslin trata em “uma anatomia do drama” como os microconflitos que sustentam a trama. Acredito nesse modelo, por enquanto. Pode ser que daqui a algum tempo me renda ao modelo “imagético-épico-dramático” que efeta as emoções humanas, apenas.


Talvez precise de um arcabouço de cunho teórico para defender e elucidar minhas idéias, ou fragmentos de construções de pensamento. Mas, me preocupo com a velocidade de transformação desse teatro, com o stand-up comedy, que confunde ainda mais a cabeça de quem nunca foi ao teatro. Percebo cada vez mais que escolhi o caminho certo dentro da academia, que será projetado para minha carreira profissional. A licenciatura em Teatro. É preciso ensinar, mediar, professar, qualquer que seja a nomenclatura para se definir os processos educacionais dentro da unidade formal de ensino. Vejo claramente que as crianças que tiverem acesso ao fazer teatral, terão maior possibilidade de abrir os olhos para este mundo ao qual vivemos, e, estar mais próxima às artes. Vamos ensinar dramaturgia nas escolas? Meu TCC vem aí, acho esse uma boa temática. As pessoas têm dificuldade de escrever drama, fatalmente porque elas não liam peças nas escolas, e tampouco assistiam espetáculos. Diferentemente na Inglaterra onde o drama é utilizado como eixo para se apropriar dos outros temas e disciplinas.


Espero que espaços proporcionados pelo Teatro NU continuem em Salvador, sobretudo na academia, que não discute a contemporaneidade da dramaturgia como ela merecia ser discutida.



Tássio Ferreira

Nova montagem - A Cantora Careca






Encerramos a nossa temporada com o espetáculo 'Campo de Concentração', no Teatro Caballeros de Santiago, e, estamos em novo processo de montagem, com uma cena de 15 minutos para o projeto Ato de 4 - Escola de Teatro da UFBA.

Escolhemos trabalhar desta vez com uma pitada de humor. Os atores precisavam "respirar" um pouco mais, "Campo de Concentração realmente era de tirar o fôlego", disse um ator. Logo, escolhemos Éugene Ionesco, com seu clássico 'A Cantora Careca'.

No elenco contamos com a participação especial de Mabelle Magalhães, na pele de Sra. Smith, Thiago Souza, vivendo Sr. Smith, Vivian Rigueira e Fernando Campos, com Sra. e Sr. Martin, Gildázio Santos como Mary e Gleison Richelle como o Bombeiro. Contamos com a orientação de cenografia de Maurício Pedrosa. Direção e adaptação de texto, Tássio Ferreira.




Vamos à algumas reflexões dramatúrgicas acerca deste texto.



A peça se passa no interior da Inglaterra, aborda o cotidiano da família Smith, que conversam dizendo banalidades com pouco sentido. Aparece a empregada Mary que anuncia a entrada da família Martin. Estes entram, sentam-se e, iniciam um diálogo também sem grande substância. Eles conversam, acumulam ocorrências, e apercebem-se de que são marido e mulher. Um Bombeiro entra a procura de incêndio, diz algumas anedotas e vai embora. Os casais voltam ao diálogo gratuito, e tudo volta ao início, em uma anticomédia.
Nesta estética absurdista é clara a idéia deste mundo irracional, pueril, que quebra com o encadeamento das falas, surgindo, assim, um “realismo do absurdo”, que é muito mais real e natural que o próprio realismo original que busca essa naturalidade dos acontecimentos, e não deixa espaço para a realidade, menos encadeada, mas imprevista, de fato aconteça. Realidade esta que, é posta à mesa por Ionesco. Realismo do absurdo, pois, dentro desta lógica proposta pelas personagens, ela existe, é real. Ainda que seja de difícil compreensão de sua existência, se levar-mos em consideração o cotidiano ao qual estamos inseridos. Talvez precisasse de mais substância de arcabouço teórico para defender esta afirmativa. Denuncia, também, as mazelas humanas, e tudo que é considerado normal pela sociedade hipócrita.

Trecho da peça (P.40 a 41)

A Smith – Meu marido teimava...
O Smith – Não, você é que pretendia...
O Martin – Sim, ela é que...
A Martin – Não, ele...
Bombeiro – Calma, calma, não se enervem. Conte a história, senhora Smith.
A Smith – Está bem. Estou um pouco midada para lhe falar francamente, mas... Um bombeiro, afinal de contas, é uma espécie de confessor.
Bombeiro – E então?
A Smith – Estávamos a discutir porque o meu marido dizia que quando se ouve tocar a campainha da porta é sinal de que há alguém atrás da porta.
O Martin – Isso é bastante plausível.
A Smith – E eu dizia que sempre que tocam não há ninguém.
A Martin – O que pode parecer estranho.
A Smith – Mas foi provado, não teoricamente, mas por A mais B, por factos.
O Smith – Isso é falso! Então o bombeiro não está aqui? Ele tocou, eu fui abrir e pronto.
A Martin – Quando?
A Smith – Agora mesmo.
A Smith – Sim, mas só depois de se ter ouvido tocar uma quarta vez é que se encontrou alguém. E a quarta vez não conta.
A Martin – Claro. As três primeiras é que contam.
O Smith – Senhor comandante, o senhor permite-me que eu lhe faça algumas perguntas?
Bombeiro – Pois não.
O Smith – Quando eu abri a porta e o encontrei, foi o senhor mesmo quem tocou, não foi?
Bombeiro – Eu mesmo.
O Martin – O senhor estava à porta? Tocou para entrar?
Bombeiro – Sim.
O Smith, para a mulher, vitoriosamente – Está a ver como eu tinha razão? Quando a campainha toca é porque alguém tocou. Você não pode dizer que o comandante não é alguém.




Escolho este trecho sem muitas definições. Poderia ter escolhido quaisquer outro, resultam no mesmo objetivo. Uma característica forte da estética absurdista é seu caráter circular. Não existe uma linha contínua de tempo, logo, a peça retorna ao início, sem alterar sua estrutura inicial. Sabendo isso, qualquer trecho é satisfatório na idéia de mostrar as facetas do absurdo. Vemos em primeira instância a gratuidade do diálogo proposto, que furta essa falsa realidade lógica. No prefácio do livro da peça, Urbanos Tavares Rodrigues nos diz que apesar desse caráter de gratuidade, alguma coisa nunca é gratuita. Essa “quebra” singular do tempo real, é uma das propostas para que seja possível o trabalho do gratuito que não carrega de tudo uma gratuidade, as mil maneiras de não se dizer nada, dizendo.
Este texto nos mostra claramente a idéia de um “antiteatro”, que foge totalmente dos princípios de uma ação dramática que permeia toda a trama, com seus conflitos, e suas curvas dramáticas. Não! Quer-se inovar, fugir a estética pré-estabelecida pelo período e daí, essa idéia de anti, porque nega tudo que já foi proposta, ainda que existam traços estilístico do drama muito subliminares. Seria uma maneira clara de denúncia à sociedade vigente, cheia de regras e conceitos, uma forma radical, talvez, de mostrar o que não se quer mostrar.




Tássio Ferreira

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Campo de Concentração


No principio se espera pelo título que 'Campo de Concentração' seja mais uma peça sobre o holocausto, porém observamos uma grande experiência que nos remete ao mesmo tempo aos nossos mais baixos sentimentos e uma reflexão que adiamos sempre quando estamos diante da realidade. Uma vez que todas as emoções mais intensas e confusas das personagens parecem convergir para a redenção.


As personagens se impõem umas as outras martírios terríveis ora de forma onírica (mais certo seria dizer a maneira de um pesadelo), ora de maneira brutalmente realista. O enredo trás personagens com diferentes personalidades e sentimentos íntimos. As pulsões são expostas, fazendo com que eles se libertem de toda repressão da sociedade e cultura que são impostas pelo superego. Isso acaba provocando a libertação do id, ou seja suas pulsões, que está reprimido dentro de cada um deles.
Campo de Concentração tem o dom de tocar os nervos e de, pela resposta que provoca com esse toque, expor o expectador de maneira desconcertante. Da mesma forma como os sentimentos se abrem diante do expectador como abismos escuros nos quais se cai sem saber quando encontrarão o fundo. Campo de Concentração não deve ser explicado. Deve ser atravessado e enfretado, não que haja afinal esperança de resolver suas contradições. nem de compreender todas as atribulações que ele provoca.


Quanto ao cenário nos remete para o caos em que as personagens se encontram, pouco, simples, mas necessário. Seria conveniente dizer que é pouco explorado diante da magnitude do texto que em dado momento nos faz recordar o grande Augusto dos Anjos (autor de: O beijo; É véspera do escarro; A mão que afaga é a mão que fere; dentre outros).


Campo de Concentração tem quase duas horas daquilo que se pode chamar de drama psicológico, é uma excelente apresentação, porém densa, enevoada, que apresenta textos carregados e quase ácidos em determinados pontos. Ao final da peça é possível compreender tudo aquilo que as personagens vêem tentando nos mostrar ao longo do enredo. Por isso, o expectador deve assistir uma segunda vez para compreender melhor a essência psicológica de cada personagem.



Psicólogo Rafael Glass

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Nasceu, já está no mercado!

Ensaio Geral, olha a cara do Diretor? A Assistente de Direção Mona Clara parece gostar do que vê!
Anne Costa, experienciando a Bailarina Paola Bittencourt

Gleison Richelle, experienciando Antônio Maia
Gildázio Santos, experienciando Sebastião Silveira Pedreira




Lucas Bertolucci e Thiago Souza, experienciando respectivamente Cícero Badaró e Erenilson de Jesus
Fábio Fênix, experienciando Alessandro Rableo, juntamente com Lucas Bertolucci
O julgamento!















terça-feira, 1 de setembro de 2009

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O que eles pensam...









“Um dos laboratórios mais marcantes foi numa sala com quadrados e velas no chão, foram colocados objetos direcionados aos personagens. Nesse momento me deparei com coisas concretas da personagem. Caí na real que ela existe de fato, isso facilitou as emoções surgirem” (Anne Costa)

“Tinha um barco, um leme, dois remos, um sol, um céu e um mar. Um horizonte ao qual eu precisava encontrar sonhos, esperanças, conquistas, realizações... A partir daí veio a chuva, o sol, vento, a brisa e quando o barco insistia em me jogar nas águas, meus amigos seguravam minhas mãos e me diziam que
era possível navegar.” (Consa Ferreira)

“O processo Campo de Concentração foi desde o início e continua sendo para mim um grande campo de aprendizagem; vivo um papel diferenciado e que tem muito haver com minha vida pessoal, o que dificultou um pouco nos laboratórios, ficando claro para mim que tais problemas pessoais acabam influenciando na qualidade do ator.” (Fábio Fênix)

“Confesso que à primeira vista fiquei confuso, não entendi o texto, achei meio louco, acho que por ser diferente de tudo que já fiz, mas apostei e sei que fiz certo.” (Fernando Campos)

“Vivenciar e aprender a expressar sentimentos tão animalescos só me faz cair em total reflexão de como ficamos tão diferentes quando somos colocados em situação de desconforto e, muitas vezes caímos em contrariedade, quando algumas ações são derrubadas por discursos que até então eram colocados como verdades absolutas em algum momento de nossas vidas.” (Gildázio Santos)

“Um verdadeiro campo de emoções, é assim que descrevo essa peça teatral que, desde o início através de seus laboratórios extrai o máximo de seus atores. Laboratórios esses que nos fez perceber que atuar não é apenas memorizar um texto e projetar a voz, é dar vida ao que não existe e fazer as pessoas acreditarem nisso, dependo é claro, da veracidade que exprimimos.” (Gleison Richelle)

“Campo de Concentração é uma exploração dos sentimentos mais profundos de nossa alma, aspectos escondidos e/ou intocáveis de nossa singularidade. Esses caminhos nos mostram pessoas despidas de seus temores e conceitos. É uma mesa farta das loucuras humanas... Aproveitem o banquete!” (Lucas Bertolucci)

“Os laboratórios me fizeram entender quem sou.” (Thiago Souza)

“Os laboratórios são por vezes difíceis, vezes inquietantes e vezes gratificantes. Somos colocados frente a nossos medos, desejos, culpas, anseios, desesperos e outros muitos sentimentos que nos fazem interagir com um “eu esquecido”, algo que precisávamos encontrar para irmos de encontro aos nossos personagens.” (Vivian Rigueira)

“O espetáculo era uma incógnita para mim. Os laboratórios eram digamos 'macrabos', Tássio nessa altura não discutia muito, inclusive eu tinha uma expectativa muito diferente do que veio a se tornar 'Campo de Concentração', e o tão sonhado espetáculo musicado e dançado foi sumindo e dando espaço a um espetáculo denso, sombrio e político.” (Yann Schettini)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Hedônicos, Por quê?


Depois de muitas discussões, pesquisas diversas para a escolha do nome de nossa Companhia, surgiu então a palavra 'Hedônicos'. Este nome não tão conhecido foi suscitado pela atriz Anne Costa; numa tentativa de representar a essência dessa Cia. que completará um ano no dia 28 de agosto, acabamos acatando a sugestão.

A palavra criada por Anne (Hedônicos) vem do grego "HEDONE" que significa prazer. Trata-se de uma teoria ou doutrina filosófico-moral (chamada de hedonismo) que afirma ser o prazer individual e imediato o supremo bem da vida humana. Surgiu na Grécia, na época pós-Socrática, e um dos maiores defensores da doutrina foi Aristipo de Cirene, discípulo de Sócrates, no século V antes de Cristo. Porém esse conceito genérico do 'prazer' apenas, não é suficiente para explicá-lo de forma completa. Isso ocorre porque o significado de prazer pode e deve ser desdobrado, dilatado a outras tantas formas. O que é prazer afinal? Genericamente pode-se dizer que tudo aquilo que é bom, dá prazer. Mas seria apenas isso?



Numa linguagem mais simples, poderia dizer também que o hedonismo é a arte de ser, não a de ter. A arte de ser é a sabedoria ascética do despojamento: não se cobrir de honras, de dinheiro, de riquezas, de poder, de glória e outros valores ou virtudes, mas preferir a liberdade, a autonomia, à independência. A escultura de si é a arte dessa técnica de construção do ser como uma singularidade livre. O Hedonismo não é a mesma coisa que consumismo, é exatamente o oposto. É o antídoto. O consumismo é o hedonismo liberal e capitalista que afirma ser a felicidade a posse de bens materiais.

Para Epicuro, o maior expoente dessa doutrina filosófica, felicidade é prazer, basicamente satisfação desses desejos físicos. Mas, como a um prazer momentâneo pode-se seguir desprazer ou dor, convém procurar um tipo de satisfação estável, comedido, mas constante - algo como a sensação que experimenta um homem que não sente sede e, por isso, não bebe. Esse "prazer em repouso", como denomina Epicuro, é precisamente a ataraxia, um estado de desejo sempre saciado e que se consegue pelo perfeito equilíbrio entre as partes do organismo. Toda concepção filosófica de Epicuro relaciona-se a quatro máximas ou medicinais: "Não há que temer a Deus", "Morte significa ausência de dor", "É fácil procurar o bem", "É fácil suportar o mal".

Na sociedade atual podemos perceber que o prazer que é sempre buscado é o prazer imediato, aquele que não necessita de nenhum esforço para ser conseguido, que satisfaz de forma rápida. Seria o prazer sexual, o prazer de ter sempre aquilo que se deseja sempre, o prazer do estômago abarrotado, o prazer do repouso longo, o prazer do vício. Então, pela teoria hedonista, a problemática humana estaria resolvida no sentido de doar-se de forma integral a esses prazeres, encarcerando-se os homens na jaula das sensações.

Porém, o que vemos é que essa forma de vida não trouxe ao homem a felicidade que a filosofia hedonista pregava. Os prazeres aos quais se entrega geralmente têm duração curta e, quando se exaurem, criam-se anseios por atingir um patamar mais elevado desse prazer. Com isso, há uma entrega total e irrestrita a sensação que causa prazer, só que essa busca se revela nula, pois não se consegue atingir a felicidade almejada, pois esses prazeres apenas criam vontade de sentir algo mais que aquele prazer não pode dar. Com isso, o homem cai em comportamentos depressivos e neurotizantes que lhes destrói a vida e todas as aspirações de progresso, já que busca algo que não existe.


Então, onde está a felicidade proporcionada pelo prazer que o hedonismo prega? Simples. O prazer não se resume apenas as manifestações fisiológicas, efêmeras que não planificam. O prazer se encontra na emoção profunda do ser. A emoção que alguém sente ao ler o lindo Soneto da Fidelidade, do grande Vinícius de Morais. A boa sensação de ler uma peça de Jorge Andrade, com todas as emoções que suscitam na gente. Assistir um bom espetáculo teatral, ainda que esse conceito de bom seja relativo. E o prazer sentido em ajudar alguém, em ver alguém que gostamos muito galgando os degraus altos do sucesso, o prazer de ver alguém que amamos chegar perto de nós. E quantos outros poderia citar!


Na verdade, toda essa explicação acerca do hedonismo não foi a real atitude para a escolha do nome pela atriz. Somos de fato um grupo que se entrega em todos os processos teatrais, tentando extrai deles o máximo possível para o crescimento enquanto atores e seres humanos. Sem falar do real PRAZER em atuar. Não somos adeptos dessa corrente hedonista que já sofreu e continuará sofrendo inúmeras deturpações como vocês puderam conferir anteriormente. Sou pessoas de teatro, que pelo prazer em atuar, seja como ator, seja como diretor, cenógrafo, enfim, não importando a maneira da atuação, queremos fazer Teatro. Daí somos Hedônicos quando amamos nossa arte de representar as múltiplas faces humanas, com objetivo de despertar o sensível e com isso levar a questionamento de si e desse espaço ao qual estamos inseridos, com toda sua complexidade. E você, tem prazer no que faz?



Tássio Ferreira (Diretor da Companhia)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Construindo, desconstruindo, reconstruindo... O processo.



No dia 28 de agosto de 2008, iniciam-se os trabalhos (ainda internos) do que mais tarde dariam nome a Companhia de Teatro Hedônicos. Das inquietações relacionadas ao fazer teatral, sobretudo com a vivência política da professora, atriz e amiga, Adriana Amorim, no curso de licenciatura em teatro pela Universidade Federal da Bahia, surgiu a NECESSIDADE de fazer algo. O impulso maior foi dado após a escrita de um texto chamado O Mesmo Espelho, onde tem-se 25 atores em cena (que não consegui reunir em um elenco). Daí surge à decisão de arregaçar as mangas e agir. Nessa atitude, a arte precisava ser colocada em questionamento, sobretudo o meu próprio conceito de arte, e busca do “eu-artista” (que até hoje não consegui decodificar por completo).

Reuni então alguns poemas, músicas como: A Fome e o Amor - Augusto dos Anjos, A Língua Lambe e Castidade que Abria as Coxas - Carlos Drummond de Andrade, Obssessor e Realizo - Tássio Ferreira, Pais e Filhos - Legião Urbana, A Carne - Seu Jorge/Marcelo Yuca/Ulisses Cappelletti, Tigresa – Caetano Veloso, O Velho – Chico Buarque, Esquecimento – Fagner e Brandão, Agonia – Composição Indisponível. E dessa diversidade poética de ambos os autores, iniciei a construção de uma oficina-laboratório, para ser experienciada com os atores. Nesse processo fui extremamente influenciado por alguns pensadores de teatro, e da linguagem cênica como um todo, como: Eugênio Barba com seus conceitos extra-cotidiano do corpo-mente, exaustão; além de Vsévolod Meyerhold com a biomecânica; Rudolf Laban com o sistema laban de estudo do movimento; Constantin Stanislávski que é o precursor das pesquisas de muitos outros encenadores; e por fim Jacyan Castilho, com a musicalidade do ator (Professora Doutora em Artes Cênicas pela escola de Teatro da UFBA). Apesar de técnicas e estudo às vezes extremamente díspares, eu não me aproprio de nenhum conceito ou técnica desses pensadores, apenas existe grande influência nessa pesquisa, que mais tarde dará vazão a uma metodologia específica, chamado por mim de Memória corporal. Um longo caminho de muitas incertezas que carregarei pelo resto de minha vida, nessa busca desenfreada pelos processos que acontecem no corpo dos atores.

Diante da elaboração dessa oficina-laboratório, começamos a praticar ainda sem textos e personagens. A idéia é partir do pressuposto que ninguém cria nada, as coisas surgem do nosso corpo, e chegam até a cena. Com isso, após 3 meses de muito suor, eis que surgi essa dramaturgia proposta pelos atores e acabada por mim.

Com o “drama estabelecido”, começam os ensaios, onde muitos atores não viveram todo o processo inicial. Alguns precisaram sair do elenco. Com isso esses laboratórios sempre eram retomados, com uma cara nova, para reavivar a chama das personagens.
Um espetáculo cheio de mistérios, incertezas, conflitos, retratando a pura essência humana, com uma visão e experiência de artistas. Numa tentativa de contemplar todas as classes artísticas (coisa impossível), é feito um recorte da vida de 11 artistas que foram colocados misteriosamente em neste local conflituoso, onde toda a trama se passa em trinta minutos. A própria situação de aprisionamento e morte inesperada leva a mente humana desses 10 homens e mulheres a expurgar suas dores, emoções, dissabores, amores, ódio, rancor, mágoa, alegria – sentimentos latentes no homem.

Um drama denso, visceral. Provocar a platéia, levar a uma reflexão de que arte é essa? Porque a arte é importante? São alguns dos propósitos desta Companhia. “Hedônicos” é fruto de um trabalho de base experimental, combinando profissionais com larga experiência no campo e jovens talentos, a fim de gerar um intercâmbio e renovação nos trabalhos artísticos.

Tássio Ferreira (Diretor da Companhia)

sábado, 9 de maio de 2009



Estamos em contagem regressiva para estréia de nosso primeiríssimo trabalho intitulado: 'Campo de Concentração'. Precisamente no dia 04 de Setembro de 2009, estréia nosso espetáculo no Teatro Caballeros de Santiago, no Rio Vermelho (próximo a Dinha do Acarajé e a Colônia de Pescadores). Depois de quase um ano de processo, de muito suor, estamos ansiosos pela estréia de nosso trabalho.
Um longo processo de grandes descobertas, envolvendo um trabalho intensivo de trabalho do corpo do ator, aulas de Ballet, exercícios inspirados na Mímica Corporal Dramática, nas questões de Musicalidade do Ator, da Biomecânica de Meyerhold, de Laban, e de Eugênio Barba. Trabalhamos na busca de uma metodologia própria da construção do espetáculo baseada na Memória Corporal - que não se apropria de nehuma destas técnicas citadas, mas as utiliza dentro daquilo que é interessante no processo.

Um espetáculo que traz a questão antropológica muito forte, livrimente inspirada nos conceitos de Eugênio Barba, no que diz respeito ao trabalho de corpo do ator, e o próprio conceito de Teatro, onde nos colocamos também como o Terceiro Teatro - que será abordado aqui no Blog mais tarde.

Release
Depois de terem sido presos em uma sala obscura, cheia de mistérios, onde a qualquer momento tudo pode acontecer, 12 artistas agora fragilizados frente a esta situação de aprisionamento e a morte inesperada, colocam para fora seus medos, anseios, amores, dores, ódio, tesão, rancor. Questionam o verdadeiro sentido da arte em suas vidas, já que esta lhe fez algoz.
“CAMPO DE CONCENTRAÇÃO”, um drama denso, visceral, metalingüístico, já que utiliza de uma modalidade artística para questionar essa mesma arte que é lançada no mercado cultural, e até mesmo nas escolas. Provocar a platéia, levar a uma reflexão de que arte é essa? Porque a arte é importante? São alguns dos propósitos desta Companhia.
A grande questão do espetáculo: Quem são estes artistas? Porque estes artistas foram presos? Eles têm apenas 30 minutos para pensar em algo até que toque a sirene. Uma trágica história que merece ser vista e não contada.

Nesse elenco contamos coma presença de: Aline Nepomuceno, Anne Costa, Bianca Rebouças, Consa Ferreira, Fabio Fênix, Fernando Campos, Gleison Richelle, Lucas Bertolucci, Thiago Souza, Vivian Rigueira, Yann Schettini. Na técnica temos: Texto e Direção de Tássio Ferreira, Iluminação: Jôsi Varjão, Maquiagem: Anne Costa e Tássio Ferreira, Figurino: Tássio Ferreira, Cenário: Tássio Ferreira, Produção: Andréia Fábia, Operação de Som: Júnior Sans,Trilha Sonora: Tássio Ferreira.


Estamos aberto a sugestões. Enviem para nosso email textos que serão selecionados e postados em nosso blog: ciadeteatrohedonicos@gmail.com


Sejam Bem-Vindos a nossa casa!