sábado, 9 de outubro de 2010

Poesia da Crueldade - Abajur Lilás

A cia. de Teatro Hedônicos, há alguns meses, sela parceria com a Cia. Gota D'água de Teatro, diriga por Jhoilson de Oliveira. No estudo de ambas as companhias, está o espetáculo Abajur Lilás, do grandioso dramaturgo brasileiro Plínio Marcos.

No espetáculo, Tássio Ferreira, atua como assistente de direção e interpretando Giro, um cafetão homessexual. Ainda pelos Hedônicos estão: Mabelle Magalhães, vivendo a pele de Célia, uma prosa Thiago Rigaud interpretando Osvaldo, uma espécie de capataz de Giro. Ainda no elenco: Monalisa da Fonseca, interpretanto Leninha, última puta a chegar na casa e Amanda Nascimento, prostituta. Quem assina adireção é Jhoilson de Oliveira.

Considerações de Abajur Lilás, por Jhoilson de Oliveira:

Escrita em 1969, talvez a peça Abajur Lilás seja a obra-prima de Plínio Marcos. Nela o autor se mostra em plena maturidade dramatúrgica, no ápice de sua capacidade de elaboração de tramas. Nos diálogos travados entre as prostitutas, o cafetão homossexual e o guarda-costas torturador o público é transportado a uma teia de relações que vai da ironia ao assassinato de forma avassaladora. Em Abajur Lilás o mundo da prostituição não é feito pelo glamour. Menos ainda pelos fetiches machistas que permeiam os produtos de TV e do cinema quando retratam as profissionais do sexo. Não existe nada de fácil nas vidas de Célia, Dilma e Leninha. Para atender a ganância de Giro, seus corpos são vendidos de forma extenuante. Não há prazer nos caminhos dessas mulheres, só degradação moral e violência física. Na zona confinada que é apartamento de Giro, o ambiente é arraigado pela hostilidade e cada uma se defende como pode. Dilma pela resignação a sua condição de mãe e pelo amor ao seu filho. Célia pela fúria, pela contraposição anarquista a opressão representada por Giro. Entre ataques e defesas vemos a nossa frente um conflito dramático baseado num ciclo de tortura mútua onde a morte se apresenta como horizonte permanente.

Abajur Lilás é um texto que, por direito de nascença, merece lugar entre os melhores da produção teatral brasileira. Na primeira montagem de Abajur Lilás em Salvador o diretor estreante buscou ter como principais marcas de seu trabalho o arrojo e o alargamento do caráter político da obra. A exemplificação desse arrojo se vê na adaptação feita no texto original. A modernização feita no texto buscou aproximar ainda mais a linguagem de Plínio Marcos do público baiano. Essa licença poética permitiu também que peça suscitasse debates sobre os crimes de pedofilia e o grande aumento no consumo de crack entre os jovens da capital baiana. A proposta é que Abajur Lilás - Poesia da Crueldade, seja um espetáculo preenchido pela baianidade com o jeito de ser e as problemáticas da gente do lugar.

O descolamento temporal entre o período de escrita do texto e a Salvador do século 21, serviu para que fosse ampliada a discussão política proposta pelo autor. O espetáculo denuncia a violação dos direitos humanos e civis das prostitutas, como sendo também uma questão de gênero. Na recriação do drama o diretor aponta o olhar para percepção de que as violências físicas e moral direcionadas as mulheres têm no seu corpo uma desqualificação do trabalho que é indissociável da desqualificação do feminino.


O espetáculo estréia 19 de Novembro (em homenagem póstuma aos 11 anos da morte de Plínio) no Feijão da Escola de Teatro UFBA. Sextas, Sábados e Domingos, até o dia 12 de dezembro, sempre as 20h. 

O espetáculo não tem um valor de ingresso definido: pague quanto quiser. Ainda em seu caráter de experimentação, pretende-se arrabatar o público pelas emoções, e com isso, ele fica a vontade para colaborar com quanto quiser.

Breve colocaremos mais notícias do espetáculo, que estréia logo logo.

6 comentários:

  1. Gosto dos amadores pois não dominam técnicas acadêmicas mas fazem teatro com amor e sem presunção.

    Neste espetáculo falta qualidade e SOBRA presunção. Falta interpretação, direção, sonoplastia, iluminação, falta, falta, falta muito.

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  2. Obrigado por expor sua opinião. Para tanto, é de mais valia para um processo artístico que quer-se maturar que essa mesma crítica venha pautada de um fundamento. Criticar por criticar não faz com que o grupo reflita, e repense o espetáculo. Para nós não diz nada.

    Além do mais uma obra artística é recheada de subjetividade, que é somada a subjetividade de quem assiste, resultado em grande possibilidades de gostos, vivências pessoais, referências... Isso é teatro, isso é arte. Não foi pensado para agradar! Foi pensado para causar... De uma noite valeu o esforço. CAUSAMOS EM VOCÊ!

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  3. O texto não faz muito meu estilo e gosto, mas como experiência estética valeu. Além disso, as interpretações dos atores e atrizes, principalmente dos personagens Giro e Dilma, são excelentes. Parabéns!

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  4. Obrigado Laércio... Uma esperiência estética é mesmo sempre válida. Com certeza cada uma tem sua função social, e Abajur também vem cumprir a sua, ainda que insista nesse submundo marginalizado, e que a sociedade insiste em colocar panos quentes...

    Plínio faz isso: escancara!

    De todo modo, obrigao por assistir e pelos comentários.

    Abração,

    Tássio Ferreira

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  5. A pessoa se presta ao papel de ir assistir a uma peça de teatro, depois entra no blog para falar mal de tudo, não é homem ou mulher o suficiente para se identificar, isso é no mínimo um ¨artista¨ FRUSTRADO.

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  6. Acredito que críticas só são válidas quando as pessoas se identificam. De que vale um "analista de teatro" se não tem nome.Ó,tem dó...mas valeu pela "falta, falta, falta". Falta também uma crítica pautada. Em quem? Em Pavis? Stanislávski? Grotowsky? Nelson? O'Neil? Onnetti? Balzac? O diabo? O caralho? Ah bom! Monalisa. Adoro me identificar. Ah que ótimo!!!!!!!!!!

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